Eu sou uma pessoa dispersa e completamente sem foco. E esse texto não vai falar sobre isso, talvez.
Trabalho com design e com minha amiga Dani tenho uma empresa chamada Estúdio Limoeiro (que faz design, risos). Em 2013, com ajuda da Dani e uma outra amiga, criei o logotipo e a identidade do Limoeiro. De lá pra cá, o logotipo teve pequenos ajustes no símbolo e uma mudança na tipografia. E eu nunca consegui ficar muito feliz com ele. Mas deixei pra lá.
Ontem eu iniciei meus trabalhos como toda manhã e em determinado momento precisei colocar o logotipo da minha empresa em um lugar novo, numa ferramenta, para isso precisaria formata-lo em um tamanho exato. Então abri meu arquivo e me dei conta que há muito tempo não mexia nele, afinal, já tinha os meus formatos padrões, minha assinatura de e-mail estava ali, no site também, enfim, tinha virado paisagem.
E foi abrindo o arquivo que toda minha angustia de “não estou muito feliz com isso” voltou. Observei aquele logo por alguns segundos e… “Ué, por que os i’s de limoeiro estão sem os pingos?”. Bom, em todo caso, vamos colocar e ver qualéquié. Tcharan. Ficou MUITO MELHOR. Tá, pode ser um exagero, mas eu fiquei bem mais feliz com minha criação. Aqueles pingos equilibraram um pouco o peso visual da composição, da tipografia. Subi o logotipo ajustado na ferramenta, coloquei na minha listinha de afazeres que preciso trocar em outros lugares e segui com meus trabalhos.
Achei engraçada a situação, brinquei com uns amigos e não consegui deixar pra lá, fiquei pensando sobre. Nesse caso eu me vi em duas posições, como designer é claro e como cliente, afinal esse projeto também tem que funcionar como qualquer outro. Com isso, cheguei a três pontos de reflexão em como clientes e criadores podem se organizar para um projeto melhor, não são ideias novas, mas como aconteceu na prática, compartilho aqui:
Afastamento
De nada adianta ficar em cima da criação, tentando alcançar o perfeito. Como criador, é preciso se afastar da cria, talvez até deixa-la viver um pouco, e só depois voltar. Assim você terá novas referencias e um novo olhar, provavelmente resolverá bem mais fácil. Como cliente também é importante se afastar, não pedir logo de cara muitas alterações, especialmente aquelas do tipo “mas tal empresa faz isso” e confiar no seu criativo. Isso não quer dizer que o projeto será inquestionável, o que nos leva ao segundo ponto.
Questionamento
É importante questionar o porquê estamos fazendo tais coisas. Quando me perguntei de por que não ter colocado os pontos nos i’s, me conhecendo, provavelmente eu tinha uma razão. Mas nesse novo momento, essa razão se existisse, não fazia sentido, ou seja, já não precisava me apegar a ela. Tanto na hora do afastamento, quanto do questionamento é importante outros olhares além do criativo. Eles vão te trazer novas referências e te ajudar nesse processo.
O insight
Voltando um pouco em como comecei o texto, eu não consigo me concentrar por muito tempo na mesma coisa. E tá tudo bem. Hoje eu aprendi a lidar com isso. Faço vários projetos “ao mesmo tempo”. É importante que cada pessoa se conheça, descubra o seu jeito de trabalhar e que as empresas, dentro dos seus limites, se adequem a isso, uma conversa, um acordo. Principalmente nas áreas em que a criatividade é a maior parte do processo. Isso não quer dizer que não terão prazos, cronogramas, etc. Muito pelo contrário, eles são muito importantes. É preciso contar esse tempo de ócio, procrastinação, falta de foco, como preferir chamar, como parte do trabalho na hora de apresentar prazos. São nesses momentos que aparecem os insight, e não sou eu que estou falando (Yeah Science, Bitch).
Claro que o meu próprio logotipo eu demorei anos, eu sou minha própria cliente, não estava com pressa. Na vida real ninguém tem esse tempo todo. Mas conte o máximo que você conseguir de prazo para essa parte ociosa do trabalho, sem ninguém mexendo no arquivo ou fazendo pesquisas diretamente. E porque não fazer um acordo com seu criativo contando com uma revisão depois de 3 meses, por exemplo? Você terá seu projeto no tempo que precisa e depois poderá aprimora-lo.
A autora é Designer, Social Media, diretora do Estúdio Limoeiro e colabora com a Acesso Livre Comunicação.