Julia Baats
Os tempos mudaram! O debate sobre a igualdade de gênero nunca esteve tão em alta, e com isso, toda a indústria da comunicação teve então de mudar a sua visão e o seu modo de pensar, colocando os olhos no quão importante é se falar em representatividade e abordagem feminina nas campanhas. Afinal, já foi comprovado que 80% das decisões de compras são feitas por mulheres. Como então se vende um produto, se a marca não sabe atingir, e tão pouco sabe se comunicar com o seu público?
As propagandas, por exemplo, do segmento de bebidas alcoólicas, são as que mais causaram polêmica em seus comerciais, visto que as mulheres eram todas estereotipadas e assumiam sempre o papel das garçonetes sensuais e encorpadas.
A cerveja Proibida em 2017 apresentou seu novo rótulo: Proibida Puro Malte Rosa Vermelha Mulher, descrita como “uma cerveja delicada e perfumada, feita especialmente para você mulher”. Este foi o pavio da polêmica. Muitas mulheres não se sentiram confortáveis com a criação desse novo produto, assim como outras já gostaram. Como explica Camila Porto em seus cursos, um erro por não compreender a persona da marca.
Porém, hoje em dia é possível sim, criar estratégias de venda, segmentando apenas pelos gostos, hábitos, estilos dos consumidores e diversidade dos seus comportamentos, sem se basear em gênero, pois não são todas as campanhas que irão te representar.
Mas, graças a essa nova era do poder da voz feminina, muitas marcas agora estão mais “antenadas” neste assunto que não se pode mais fugir – ainda bem!
Em contraponto, como exemplo de mudança, podemos citar o reposicionamento criativo da marca Skol em 2017, quando assumiram publicamente que por muitos anos não souberam tratar e nem representar as mulheres em suas campanhas. Como forma de demonstrar essa mudança, a marca convidou ilustradoras para repaginarem suas campanhas e anúncios.
Outro exemplo positivo é da campanha do dia Internacional da Mulher feita pela marca Budweiser Brasil, lançada neste ano, com a seguinte pergunta: “Agora, será que traduzir a data em uma flor não é pequeno?”. No twitter, a marca lançou a hashtag #TrocoFloresPor, no intuito de engajar as mulheres e substituírem as rosas por atitudes positivas.
Twitter Budweiser: https://twitter.com/Budweiser_Br/status/1103778590318100480
Com a @KarolConka é sem massagem. #TrocoFloresPor homens na pele das mulheres é mais do que um pedido: é um statement. A empatia vai salvar o mundo. E muitas vidas também. pic.twitter.com/laE30z7hyb
— Budweiser Brasil (@Budweiser_Br) 8 de março de 2019
Antes de impor o produto ou recorrer a clichês, a marca preferiu o debate, se inseriu no contexto, levantou a bola para que as mulheres pudessem colocar seu ponto de vista em relação a como se veem como mulheres. Em outras palavras, deu a oportunidade de fala para quem é de direito.
Falta de respeito nas ruas, violência doméstica, assédio, feminicídio, igualdade. Ao longo do dia, estas palavras vieram acompanhadas da hashtag #trocoflores e opiniões significativas e verdadeiras. Foi tão intenso o debate que a hashtag #Trocoflores também esteve entre os trending topics do Twitter de forma orgânica.
Veja outros tweet com a hashtag:
#TrocoFloresPor Andar na rua sem ter medo de ser desrespeita
#TrocoFloresPor Mais respeito
#TrocoFlores Pelo fim da violência doméstica
#TrocoFlores Pelo fim do assédio
#TrocoFlores Pelo fim do feminicídio
#TrocoFlores por igualdade social
Que a publicidade possa ser uma grande aliada na mudança de pensamentos ultrapassados e que seja – a cada dia – uma grande ferramenta de evolução, respeito, aprendizagem e igualdade.
Julia Baats é publicitária na Acesso Livre Comunicação